segunda-feira, 17 de maio de 2010

EDUCAÇÃO E ECONOMIA





A Educação sempre é motivo de inúmeras discussões em vários seguimentos da sociedade. O que nos faz estar sempre alerta que são debatidos nessa área. Neste sentido trago à luz para reflexão o texto: Educação Urgente: pra quê; de José Misael Ferreira do Vale, onde o autor traz para debate as necessidades urgentes da sociedade brasileira e as prioridades que a mesma tem colocado em primeiro plano. Estando em destaque como necessidades urgentes: alimentação, moradia, emprego, saúde e educação escolar, o autor afirma que:
“o povo reconhece como prioridade social; sem alimentação adequada para todos, sem emprego que garanta uma subsistência digna, sem o bem estar físico e psíquico, sem instrução significativa que beneficie a todos fica difícil pensar numa sociedade equilibrada e menos desigual.” (VALE 1997, p.28)
Sob este ponto de vista é evidente que a educação escolar é um fator necessário para a emancipação do sujeito em todas suas dimensões (humana, técnica e política). Até por que é na educação, sendo ela formal ou não, que nossas heranças culturais podem ser transmitidas; é através da educação que a relações sociais se estabelecem, seja de conflito, seja de passividade. Sendo assim, a Educação, sempre estará na sociedade como uma necessidade urgente discutida e construída através das relações coletivas.
Entretanto, mesmo sendo uma necessidade humana, a Educação ainda não é vista como prioridade social. Já que existe uma contradição entre o fato de priorizar a educação escolar e ainda existir um índice altíssimo de brasileiros analfabetos e abaixo da linha de pobreza, ou seja, miseráveis. E ainda, um fator mais agravante. A Educação deixa de ser prioridade quando passa a ser obrigação. Pois o que se entende por prioridade é aquilo que se decide através do livre arbítrio e no caso brasileiro a necessidade mais urgente é a sobrevivência. Logo a sociedade colocará a Educação, mesmo que de maneira inconsciente, em segundo plano.
Pois o país, através de seus representantes legais, não oferece condições mínimas de sobrevivência para que estes milhões de brasileiros possam viver com dignidade e conseqüentemente, priorizar a Educação escolar. O que se vê é um governo que investe muito pouco em emprego (técnico), moradia, saúde e lazer (humano) e educação (político). E ainda coloca esta última como obrigação da população, quando na verdade deveria ser dever do Estado e direito do povo.
Partindo desta perspectiva, o autor propõe um plano que possa estreitar as relações entre política e sociedade e acrescenta “sem um projeto nacional de desenvolvimento democraticamente estabelecido que articule a sociedade política e a sociedade civil não se poderão criar as condições mínimas básicas para o crescimento simultâneo das pessoas e da nação” (IDEM, 1997, p.28). Que é uma Educação de qualidade onde há investimento em todos os níveis de escolaridade, desde a educação básica até o nível superior. E uma economia bem estruturada que tenha como prioridade todas as necessidades acima citadas, em especial a Educação.
E traz para discussão as opiniões do pedagogo Mário Alighiero Manacorda e do economista Aloísio Mercadante no qual ambos afirmam que Educação e Economia devem estar em sentidos iguais para que haja um maior desenvolvimento do país. De acordo Mercadante o Brasil possui, “matérias-primas, fonte de energia, terras férteis, tamanho, gente, mercado consumidor, potencial, etc... Falta ao país uma elite dirigente que tenha horizonte histórico e que entenda que a educação é a prioridade das prioridades.” (VALE 1997, p. 30).
Manacorda por sua vez, acredita que a Educação precisa estar caminhando com as “necessidades contemporâneas”, que em seu ponto de vista, trata-se do “ensino das ciências, tecnologias e processos eletrônicos de informação, naquilo que designa o ABC contemporâneo colocado na compreensão e na vida atual, no domínio do conhecimento que determina a diferença entre as pessoas e a nação.” (IDEM, 1997, p. 29). Investimento que sem dúvida contribuirá fortemente para o avanço do país.
Entretanto, não basta que os setores competentes equipem as salas de aula com recursos de “ponta” e ofereçam às escolas, grande número de professores se estes últimos não são bem remunerados e não desfrutam de formação continuada. Neste sentido, Vale (1997) ressalta que se faz importante e necessário um espaço escolar onde educador tenha uma condição de trabalho de qualidade para assim oferecer, também uma educação de qualidade. E que isso só acontecerá quando os setores públicos voltarem sua atenção para a recuperação da escola pública enquanto espaço de debates e de construção da autonomia dos sujeitos que nela estão inseridos.
Pois não há como conceber a idéia de uma escola para todos se não houver dentro deste ambiente o respeito às diferenças e necessidades de seus componentes e ao mesmo tempo em que seja de qualidade. Por isso o autor estabelece alguns objetivos para que a educação brasileira se enquadre numa perspectiva emancipadora e humanitária, que são:
1. Pensar de maneira global a política educacional, refazendo de alto a baixo o processo de formação dos professores, tanto em nível de 2º Grau como nas Licenciaturas;
2. Implementar dentro do sistema escolar um esquema de formação continuada sob várias formas;
3. Recuperar a sala de aula como espaço privilegiado da educação escolar. (VALE 1997, p.30)
Neste sentido entende-se que a educação escolar precisa ser do interesse tanto da sociedade civil quanto (e principalmente) da sociedade política, que por sua vez é quem vai disponibilizar todos os recursos necessários para que a educação seja de fato de quantidade e qualidade.
Por fim, nos alerta para o fato de que a escola só será de fato lugar de relações dialéticas, quando compreendermos que além de ser uma necessidade precisa ser também uma prioridade social e política. Compromisso do qual não devemos nos furtar de assumir. Como educadores e educadoras temos que lutar para que nosso espaço com autonomia e participação popular. E isso só acontecerá quando todos, professores, alunos, comunidade começarem a intervir de forma significativa nas decisões que determinarão o rumo da educação.


terça-feira, 23 de março de 2010

Nosso momento

“Como componente curricular, o estágio pode não ser uma completa preparação para o magistério, mas é possível, nesse espaço, professor, aluno e comunidade escolar e universidade, trabalharem questões básica de alicerces, a saber: o sentido da profissão, o que é ser professor na sociedade em que vivemos como ser professor, a escola concreta, a realidade dos alunos nas escolas do ensino fundamental e médio, a realidade dos professores nas escolas, entre outras. [...] Assim, propomos que o estágio, em seus fundamentos teóricos e práticos, seja espaço de diálogo e de lições, de descobrir caminhos, de superar obstáculos e construir um jeito de caminhar na educação de modo a favorecer resultados de melhores aprendizagens dos alunos.” (PIMENTA 2009, p. 129).
O Estágio se apresenta como o locus, o espaço-lugar de afirmação de nossas escolhas, que por sua vez nos compromete com o desenvolvimento e transformação do espaço escolar, bem como o desenvolvimento da autonomia de todos os componentes; de cada sujeito que se insere na escola. Por isso que se faz já, a necessidade de vermos o estágio como Nosso Momento... nele tocamos a realidade como aprendizes e a recebemos como criadores... e nos situamos na vida como construtores de uma História.

sábado, 6 de março de 2010

Leiam... Reflitam... Comentem!!!

Eis o pensamento de um teórico que vê a educação como reprodutora das forças produtivas existentes, na qual a escola, como Aparelho Ideológico do Estado, está fadada a garantir e perpetuar os interesses das classes dominantes. O que você, educador em formação e futuro profissional da educação pensa a respeito?

"Peço desculpa aos professores que, em condições terríveis, tentam voltar contra a ideologia, contra o sistema e contra as práticas em que este os encerra, as armas que podem encontrar na história e no saber que 'ensinam'. Em certa medida são heróis. Mas são raros, e quantos (a maioria) não têm sequer um vislumbre de dúvida quanto ao 'trabalho' que o sistema (que os ultrapassa e esmaga) os obriga a fazer, pior, dedicam-se inteiramente e em toda a consciência à realização desse trabalho (os famosos métodos novos!). Têm tão poucas dúvidas, que contribuem até pelo seu devotamento a manter e a alimentar a representação ideológica da Escola que a torna hoje tão 'natural', indispensável-útil e até benfazeja aos nossos contemporâneos, quanto a Igreja era 'natural', indispensável e generosa para os nossos antepassados de há séculos."
Althusser

segunda-feira, 1 de março de 2010

Educadora em formação


A educação se apresenta com a difícil tarefa que é a de formar seus educandos de maneira que estes venham a se compreender como sujeitos ativos e transformadores da realidade. Neste sentido é que trago para análise o relato de experiência do estágio em Educação Infantil, no qual eu, Léia Nascimento da Silva deixarei registrado a importância do curso de Pedagogia não só para mim como também para a sociedade e os indivíduos que a compõem. Destacando o processo de aprendizagem pelo qual passei durante os sete semestres que me permitiram construir a concepção que hoje tenho de homem, de sociedade, infância, criança, educação e escola, baseando-me naqueles teóricos que mais influenciaram em minha formação acadêmica.
Nasci em 17 de julho de 1988 aqui na cidade de Jequié-BA, venho de uma família católica, onde a fé e o respeito ao próximo se tornam fundamentais na vida cristã. E é nessa mesma família e religião que vivo até hoje realizando todas as coisas que em comum gostamos.Estou contente em poder relembrar minha história, pois a mesma me remete a um passado ainda presente que não se perdeu e vem me dando forças para poder caminhar em busca de um objetivo maior que é o de me tornar uma grande educadora comprometida com a nossa sociedade.
Em 1993, quando ainda tinha 4 anos de idade fui à escola pela primeira vez, foi uma das experiências mais importantes da minha vida, não sei contar com detalhes, mas lembro-me que comecei fazendo a alfabetização, pois como já sabia ler e escrever, os professores me adiantaram um pouco e foi lá na ESCOLA MUNICIPAL DOM JAIRO que concluí todas as séries iniciais. Já aqui é importante ressaltar o engajamento político da comunidade escolar nas questões referentes às decisões que eram tomadas pelo poder legislativo e executivo da cidade de Jequié daquela época.
Com 9 anos de idade comecei a estudar na ESCOLA MUNICIPAL PRESIDENTE MÉDICE onde estudei da 5ºaté a 8º. Foi nesse período que comecei a me perceber como sujeito ativo da sociedade, pois minha família desde muito tempo, como já havia mencionado, me ajudava a ter uma visão multifocal dos acontecimentos existentes na sociedade vigente. Foi então que nesta época participei junto com boa parte da comunidade jequieense de várias manifestações pública ocorridas na cidade e tudo isso me fez crescer como pessoa e como sujeito.Ao término do ginásio fui para o COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR MAGALHÃES NETO hoje conhecido como COLÉGIO DA POLÍCIA MILITAR onde cursei do 1º ao 3º ano de formação geral. Nessa época eu já tinha consciência de que a sociedade brasileira e em especial a cidade de Jequié, mas ainda não compreendia as relações mais complexas existentes na estruturas sociais.

Por isso quando terminei o colegial não queria saber de estudar, estava cansada de sala de aula. Mesmo assim meus pais insistiam em dizer que eu deveria ao menos tentar um vestibular, no qual resisti ainda por hum ano, mas em 2006 não tive alternativa senão me inscrever para o concurso. Foi aí que fiz o vestibular para Pedagogia e passei. A princípio não entendi o porquê passei se nem sequer, havia me empenhado enquanto outras pessoas que se dedicaram tanto não conseguiram ser felizes em sua aprovação. No entanto, como minha vontade sempre foi me dedicar às questões sociais logo pensei na possibilidade do curso de Pedagogia contribuir para tal objetivo.
Foi então que em Agosto de 2006 comecei minha vida acadêmica na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) campus de Jequié cursando, como mencionara anteriormente, o curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, no qual a princípio eu ainda não compreendia a importância dessa área da ciência para a transformação da sociedade. Por isso me mantinha ainda resistente ao que o curso poderia me oferecer enquanto aprendiz.
Entretanto, ao me deparar com a proposta de ensino, bem como as disciplinas e professores que nos ensinaram, percebi que ser pedagogo vai além da idéia de se tornar um profissional habilitado para exercer determinada função, mas se trata aqui de fazer parte de um pequeno grupo de pessoas que tiveram a oportunidade de entrar numa universidade e se tornarem indivíduos pensantes e, conseqüentemente, agentes de mudança numa perspectiva de sociedade mais justa e menos desigual. O educador pedagogo tem como responsabilidade respaldar a comunidade na qual está inserido com a intenção de oferecer um ensino de qualidade que permita aos educandos uma maior compreensão de mundo e das estruturas que influenciam nas relações sociais.
Partindo dessa perspectiva é que vejo o curso de Pedagogia como a possibilidade real de participação ativa da sociedade, já que o curso não se limita em suas especificidades, mas abre seu leque para questões ligadas à Sociologia, Filosofia, Psicologia, Ciência Política, etc., ciências estas que respaldam a atuação docente contribuindo para que estes trabalhem sempre com o objetivo de preparar os seus educandos para além dos muros escolares.
Neste sentido ressalto a importância de todas as áreas de conhecimento que foram trabalhadas nos seus respectivos semestres que. As disciplinas foram apresentadas dando-nos suportes para compreendermos a sociedade e a educação. No primeiro semestre tudo era muito novo pra mim, as pessoas, a universidade, os professores e, por isso, foi difícil a adaptação. Mas, o que ficou marcado nesse período foi à forma como a maioria dos professores se comprometiam com sua docência e transmitiam incentivos para nós iniciantes. Cada disciplina era um marco em nossas vidas.
Começando pela disciplina Educação e Maio Ambiente com a professora Eunice, em uma de suas últimas aulas ela destaca a importância de sermos comprometidos com a Educação, pois nós “estudantes de Pedagogia estávamos agora fazendo parte dos 5% da população mundial que pensavam e que os 95% restante eram pensados”. Tal afirmativa me fez perceber que as estatísticas e principalmente, a realidade deveriam criar em nós um sentimento de responsabilidade social já que conhecer é um direito de todos, mas infelizmente, é negado à grande maioria. Foi então que comecei a me interessar mais pelo curso e pela abordagem contextualizadora de todas as disciplinas.
Neste sentido, a aprendizagem se tornou processual, porém significativa, pois ao discutirmos o conceito geral de Sociedade e Educação, acabávamos por compreender também como tal relação se estabelece. Mas, em que consiste a sociedade e a educação afinal?
Baseando-me nas idéias gerais definida na disciplina Introdução à Sociologia, sociedade é um grupo de indivíduos que formam um sistema semi-aberto, no qual a maior parte das interações é feitas com outros indivíduos pertencentes ao mesmo grupo. Uma sociedade é uma rede de relacionamentos entre pessoas. Uma sociedade é uma comunidade interdependente. Ou seja, sociedade refere-se a um grupo de pessoas vivendo juntas numa comunidade organizada como um corpo social, neste sentido “cada órgão depende do outro, de tal forma que, se toda anatomia social funcionar bem, o corpo todo será saudável. Entretanto, a partir do momento em que os órgãos ficar doente ou deixar de funcionar, todo corpo se ressente” (MEKSENAS 1988, P. 35).
Da mesma forma a educação é compreendida como tudo aquilo que fazemos por nós mesmos e todo aquilo que os outros tentam fazer com a finalidade de nos aproximar da perfeição de nossa natureza. A educação consiste num processo inclusivo que assume formas múltiplas se realizando tanto em nível sociocultural quanto em nível psicossocial. De acordo Pereira e Foracchi (1976, p.13) a educação é:
A ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não estão maduras para a vida social e (tendo) por objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais dela exigidos pela sociedade política no seu conjunto e o meio especial a que se destina particularmente. [...] vista na escala da sociedade, ela se resolve efetivamente, para cada geração considerada, imatura no sistema de norma se valores sociais impostos. E o que aparece é a “ação exercida”, definindo um processo que se daria unilateral, que plasma socialmente o indivíduo, criando o ser social a partir do ser individual.
E este processo de desenvolvimento da educação sempre esteve estreitamente relacionado com os ideais de democracia de massa. Entretanto, vale ressaltar que, a educação por si só, ou seja, pela oportunidade que dá aos indivíduos para desenvolverem suas capacidade e aptidões, não é o suficiente para chegarmos à transformação da sociedade. Já que esta última é composta por várias estruturas, que através das relações entre si expressa e a na maioria das vezes reafirma as desigualdades existentes muito mais do que a possibilidade de mudança.
Estabelecidas tais compreensões, passamos para o segundo semestre, no qual aprofundamos os conhecimentos adquiridos anteriormente. Neste sentido destaco aqui as disciplinas História da Educação II, ministrada professora Elenice Ferreira e, Sociologia da Educação I, com a professora Lélia Amaral. Em História da Educação, percebi a estreita relação existente entre sociedade e instituição escolar, pois esta última, historicamente, tende a reproduzir o modelo social de cada época, conseqüentemente perpetuando as relações de poder. E em Sociologia da Educação compreendi que tais relações se estabelecem por que assim como a família e a religião, a escola também é um aparelho ideológico do Estado, que o serve de acordo com as estruturas do corpo social.
Entretanto, vale ressaltar que dentro de todo esse sistema de reprodução, existem também as contradições sociais, que dão espaço para as transformações da mesma. Neste sentido, destacam-se as históricas revoluções ocorridas no decorrer do desenvolvimento da sociedade, que só aconteceram justamente por causa da percepção aguçada daqueles que acreditavam na melhoria da qualidade da educação, da saúde, do trabalho e da vida.
Passamos então para o terceiro semestre no qual discutimos sobre a importância de se formar cidadãos a partir dos tripés que estruturam, ou deveriam estruturar a educação escolar brasileira, que são os aspectos humano, técnico e político. No aspecto humano o objetivo é que a escola trabalhe o desenvolvimento de cada indivíduo tanto no que diz respeito ao ser enquanto pessoa, quanto à relação que ele constrói com os demais componentes do seu convívio social. O técnico tem como pressuposto preparar o sujeito para o trabalho na perspectiva de que, a partir deste possa haver a ascensão social dos indivíduos de dada sociedade. E o aspecto político refere-se à maneira como é abordada a realidade dos educandos, bem como as relações de poder que limitam as ações educativas no país, etc.
Ainda no terceiro semestre tivemos a disciplina Educação de Jovens e Adultos (EJA), com a professora Edjane Freitas na qual a linha de discussão seguiu em torno da Educação Popular encabeçada por Paulo Freire. A pedagogia freiriana destaca que a educação pode e deve acontecer para além dos muros escolares. No qual o educando é valorizado em sua totalidade, levando em consideração as condições sociais em que são obrigadas a viver. Pois como já sabemos, os sujeitos da Educação Popular são pessoas mantidas à margem da sociedade, ou seja, analfabetos totais, analfabetos funcionais, jovens advindos da periferia, mulheres, negros, idosos, enfim, homens e mulheres que tem seus direitos e deveres violados. Neste sentido Freire (1921, p. 21) destaca que:
O educador popular, preocupado com o problema do analfabetismo, dirigiu-se sempre às massas que se supunham “fora da historia”; a serviço da liberdade, sempre dirigiu-se às massas mais oprimidas, confiando em sua liberdade, em seu poder de criação e crítica. Os políticos, ao contrário, não se interessavam pelas massas, senão na possibilidade de estas serem manipuladas no jogo eleitoral.
Após tantos momentos de discussões, passamos para o quarto semestre com muitas de nossas “verdades” desconstruídas, que por sua vez deram lugar a conhecimentos cheios de significado. Entretanto, ao chegarmos na metade do curso que foi também a metade do semestre, toda a turma se deu conta do grande sentimento de desanimo que nos abateu. Todos sentiram cansados, com vontade de desistir, mas para nossa satisfação, o curso de Pedagogia dispõe não apenas de grandes educadores, mas também de grandes amigos que nos ajudaram a superar todos os momentos de incertezas. Destaco as professoras: Ana Luiza Gusmão (Nucha) e Sandra Suely.
Nucha em Didática I, sempre via sua aula interrompida por nossos desabafos e mesmo sabendo que ali não era o memento nem o lugar, nos ouvia com toda paciência e respeito e não nos deixava desanimar. Sempre nos dizendo do bom desafio que é ser um educador. E Sandra Suely na disciplina Psicologia da Educação III, nos orientando para a compreensão do desenvolvimento cognitivo de cada indivíduo, e quando menos esperava, olha a turma novamente com os desabafos. Então não havia outra saída senão fazer da aula uma sessão de atendimentos. Mas o que nos deixou marcas nesse semestre foi à maneira como os professores se posicionaram, nos fazendo perceber que a relação professor e aluno vai além da simples transmissão de conhecimento, mas se concretiza através do diálogo e do respeito.
No quinto semestre discutimos a educação através da relação homem-sociedade. Esse período foi o que, através da disciplina Ciência Política, mais nos ajudou a aprofundarmos o entendimento sobre as relações de poder existentes entre as classes sociais, já que abordamos teóricos de diferentes seguimentos e diferentes idéias que interferiram diretamente nas bases, nas estruturas e nos sistemas do corpo social no decorrer das transformações do mesmo. Por isso destaco Sadek (1999, p. 39) discorrendo sobre o pensamento de Nicolau Maquiavel no qual o mesmo vê o homem na preceptiva daquilo que é próprio dos indivíduos, ou seja, o bem e o mal, destacando que:
Não é necessário a um príncipe ter todas as qualidades mencionadas, mas é indispensável que pareça tê-las. Direi, até, que, se as possuir, o uso constante delas resultará em detrimento seu, e que, ao contrário se não as possuir, mas afetar possuí-las, colherá benefícios. Daí a convivência de parecer clemente, leal, humano, religioso, íntegro, e ainda de ser tudo isso, contanto que, em caso de necessidade, saiba tornar-se o inverso. [...] por isso é mister que ele tenha um espírito pronto a se adaptar às variações das circunstâncias e da fortuna e, como disse antes, a manter-se tanto quanto possível no caminho do bem, mas pronto igualmente a enveredar pelo do mal, quando for necessário.
Pra falar do poder real (soberano) que antecedeu o capitalismo discutimos Thomas Hobbes com o estado de Natureza, contrato e Estado artificial. Esses três aspetos na teoria hobbesiana, descrevem como se estabelece as relações de poder, na qual o mais fraco se a lia ao mais forte para garantir sua segurança, dando ao mais forte toda a liberdade de fazer desse “contrato” o que quiser. E acrescenta:
Uma lei da natureza (lex naturalis) é um preceito ou regra natural, estabelecido pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem a fazer tudo que possa vir a destruir sua vida ou privá-los dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder contribuir para preservá-la. [...] segue-se daqui que numa tal condição todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros. [...] renunciar ao direito de alguma coisa é o mesmo que privar-se da liberdade de negar ao outro o benefício de seu próprio direito à mesma coisa. [...] de modo que a consciência que redunda para um homem da desistência de outro a seu direito é simplesmente uma diminuição equivalente dos impedimentos ao uso de seu próprio direito original. (RIBEIRO 1999, p. 60)
Para superar a soberania real, surge a burguesia empunhando a bandeira do capitalismo, através da teoria de John Locke, na perspectiva de que a Natureza só existe para aqueles que podem, através de seu “suor”, desfrutá-la. Neste sentido, Mello (1999, p. 85) acrescenta que “para Locke a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo uma instituição anterior a sociedade, é um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo Estado. [...] o trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da propriedade”.
Por fim, discutimos a pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, no qual pudemos ver na perspectiva das massas, como é possível a transformação social, no que diz respeito ao processo de desmitificar a cultura de dominação. Neste sentido o autor destaca que:
Os líderes revolucionários devem praticar uma educação co-intencional. Professores e alunos (aqui líderes e povo) tendem, os dois, para a realidade como sujeitos, e isto não só para “des-velá-la” - e portanto conhecê-la de maneira crítica -, mas para recriar este conhecimento. Quando por uma reflexão e uma ação comuns obtém o conhecimento da realidade, descobrem que são recriadores permanentes. Desta maneira, a presença dos oprimidos na luta pela libertação será o que deve ser: não uma pseudoparticipação, mas sim uma ação comprometida. (FREIRE 1929, p. 86)
Em paralelo com tais discussões tivemos a disciplina Educação Infantil com a docente Marilete Calegari, na qual tivemos uma abordagem histórico-social da infância, da criança e da própria Educação Infantil, destacando que os diferentes momentos de desenvolvimento humano deveriam ser vistos tanto nas suas particularidades, como também de que forma refletiria na fase seguinte. Neste sentido, Marilete nos falou da forma como a criança e, conseqüentemente a infância, era tratada até por volta do século XVII, na qual a criança era desconhecida como tal e sempre era representada como um adulto em miniatura, sem nenhuma diferença de expressão ou de traços.
Apenas no fim do sec. XVII e que a infância e, respectivamente, a criança começa a ser vista como um ser humano em formação, com suas particularidades e comportamentos próprios da fase infantil. Aqui Ariès (1981, p. 30) acrescenta que já no século XVII:
Ao descrever sua netinha, “sua amiguinha”, M de Séviguiné pinta sena do gênero próxima das de La Nain ou Bosse, acrescentado, porém, a delicadez dos gravadores do fim do século XVII e dos artistas do século XVIII. “Nossa menina é uma belezinha. É morena e muito bonita. Lá vem ela. Dá-me um beijo lambuzado, mas nunca grita. Ela me abraça, me reconhece, rir pra mim e me chama só de Maman (em vez de Bonne Maman)”. “eu a amo muito. Mande cortar seus cabelos, e ela agora usa um penteado solto. Esse penteado é feito para ela. Sua tez, seu pescoço e corpinho são admiráveis. Ela faz cem pequenas coisinhas: faz carrinhos, bate, faz o sinal da cruz, pede desculpas, faz reverências, beija a mão, sacode os ombros, dança, agrada, segura o queixo: enfim, ela é bonita em tudo o que faz. Distraio-me com ela horas a fio”.
Neste sentido percebe-se que as mulheres sempre tiverem um sentimento terno pelas crianças, mas por se encontrarem em um período histórico em que o sexo feminino não era visto com respeito e relevância, a mulher se limitava apenas ao “cuidado dos pequeninos”.
Passamos para o sexto semestre no qual não foi diferente, pois tivemos excelentes educadores que nos ajudaram a continuar construindo nossa própria concepção de ensino, destacando especialmente as disciplinas Avaliação da Aprendizagem, com Cássia Rehem e Currículos e Programas, com Sirlândia Souza. Na disciplina de Avaliação aconteceu toda uma desconstrução do que compreendíamos por: nota, classificação, avaliação, etc. Passamos a compreender que avaliar a aprendizagem vai além de atribuição de méritos, mas passa por uma profunda percepção do processo de desenvolvimento pelo qual passa todos os educandos. Neste sentido, Tyler afirma que:
Tudo isso ilustra o fato de existirem muitas maneiras de obter dados sobre mudanças de comportamento e mostra que, quando falamos de avaliação, não temos em mente um método único, nem mesmo dois ou três métodos particulares de avaliar. Qualquer meio de obter dados sobre s espécies de comportamento representadas pelos objetivos educacionais da escola ou faculdade é um procedimento apropriado de educação. (1975, p. 101)
Em Currículo, aprendemos que não deve existir heterogeneidade na educação escolar, já que os educandos que a compõem, são advindos de diversas culturas existentes numa mesma sociedade. E que, para tanto, não se pode conceber um currículo heterogêneo, discriminatório e excludente, no qual apenas uma das muitas classes sociais, é privilegiada. Partindo dessa perspectiva discutimos a trajetória histórica do currículo que surge da necessidade de atender as demandas da revolução industrial. Após profundas análises do currículo nacional percebe-se que este necessita de reformas urgentes que possam atingir todas as camadas sociais. Então, se começa a trabalhar nos currículos com os aspectos: cultura, gênero, identidade e sexualidade.
Seguimos então, para o sétimo semestre que ainda encontra-se em andamento, tivemos disciplinas metodológicas referentes ao Ensino Fundamental I (séries iniciais) e Práticas Metodológicas em Educação Infantil disciplina ministrada pela professora Claudia Celeste Lima que nos ajudou a descobrir e reafirmar a estreita relação existente entre teoria e prática docente a partir da experiência do estágio supervisionado.
Neste sentido, pude perceber como se faz importante irmos às escolas e creches para vermos com de fato a Educação Infantil acontece, pois é no dia a dia, em sala de aula que nos confrontamos com aquilo que aprendemos desde a mais terna idade. E percebemos como e difícil e por isso encantadora a ação docente, já que:
O estágio supervisionado, visto como atividade teórica instrumentalizadora da práxis do futuro professor (PIMENTA, 1994: 121), é o lócus dessas reflexões sobre o professor e seu trabalho. É fazendo do estágio esse espaço de reflexão sobre a docência, que esperamos contribuir na formação de professores críticos-reflexivos, competentes, comprometidos e cientes de sua função social. Essa maneira de conduzir as atividades do estágio é o nosso jeito de caminhar na educação. (LIMA 2003, p.17)